E lá se foram dois anos. Dois anos a menos de todos que
teremos ao seu lado. Mas dos quais me recordo de cada minuto, cada segundo. Sim,
já me entendi nostalgicamente depressivo em matéria de “tempo paterno”. Então
tento de maneira recorrente me lembrar que o tempo que temos é o agora.
Agora, aquele fiapo de gente, quase careca, frágil e
dependente, está de chuquinha ou presilha, com pernas roliças, faz pergunta,
responde, vai à escolinha...
Agora a gente brinca de basquete, de pega-pega, de esconder,
de tcharam, de cabeça dinossauro, desenha estrela, assiste Peppa e Hi-5, passeia de motoca e vê Pocoyo...
Agora a gente brinca de chuveirinho e você toma banho em pé.
Mas o banho sempre foi divertido, né? Pelo menos pra mim. “Papai, bâânhu!”...
Agora pede sorvete, come uma casquinha inteira sem medo de
ser feliz, e sem se importar nada com o que cai na roupa, na cadeirinha, no
banco do carro...
Agora dá beijo com direito a bico pra gente acordar...
Agora canta a música da Dona Aranha todinha...
Agora dirige quando o papai vai guardar o carro, buzinando, apertando
todos os botões e mexendo em todas as alavancas possíveis...
Agora come um danoninho inteiro sozinha e, quando termina,
diz: “Ôto, mamãe!”...
Agora gosta de kibe, pizza, linguiça, e come essas coisas de
uma forma que faria inveja à Magali...
Agora, minha vida, é o dia, a noite, as madrugadas, a hora,
o minuto que temos ao teu lado. O agora, minha filha, é pelo quê vivemos,
porque não tenho coração forte o bastante para o ontem e nem paciência para o
amanhã.